EL PUBLIQUE

EL PUBLIQUE

Frios Roraima doou salsichas no Brasil prestes a vencer em protesto pelo bloqueio venezuelano às suas exportações ilegais e descartou centenas de toneladas de produtos vencidos

Alimentos brasileiros que não puderam entrar na Venezuela desde janeiro deste ano foram descartados ou doados em junho passado pela Frios Roraima, uma empresa de distribuição de alimentos em Boa Vista, Brasil. Tratava-se de 900 toneladas de produtos que venceram e já não eram aptos para o consumo humano. Entre eles, havia 30 toneladas de salsichas que foram distribuídas gratuitamente a mais de 500 pessoas em uma praça do centro, como uma forma de protestar contra a medida do governo venezuelano e ajudar a população local.

A entrega dos pacotes de salsichas foi realizada na sexta-feira, 16 de junho, na Praça do Centro Cívico Joaquim Nabuco, onde se formou uma longa fila desde cedo pela manhã. Apesar da chuva, os organizadores distribuíram cerca de cinco mil pacotes, cada um com três quilos de produto, que tinham data de validade para agosto.

O gerente da empresa Frios Roraima, Inaldo da Silva Santana, explicou que a doação foi também um ato simbólico para chamar a atenção das autoridades sobre a situação dos empresários que não podem vender seus produtos à Venezuela. “Então, como uma forma de beneficiar as pessoas... estamos doando para chamar a atenção das pessoas, parlamentares, deputados, senadores e governadores para que tomem consciência. Os empresários não podem sobreviver se seu produto não for vendido”, disse.

Descarte de alimentos no aterro sanitário

O processo de descarte dos alimentos começou na quinta-feira, 15 de junho, com o uso de cinco reboques que transportavam 28 toneladas cada um ao aterro sanitário municipal de Boa Vista. O resto do produto, cerca de 760 toneladas, foi descartado posteriormente. Os alimentos fazem parte das exportações bloqueadas pela Venezuela desde janeiro.

Negociações com o governo federal

O governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), enviou uma carta ao presidente Lula (PT), nesta quinta-feira, 15, solicitando ao governo federal realizar negociações para pôr fim à restrição de produtos brasileiros, como carne, embutidos, arroz e trigo.

O primeiro-ministro, Alexandre Padilha, confirmou que o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) deve negociar com o país o fim das restrições. “Realmente, uma situação absurda. Não existe comunicação a respeito que possa justificar tal atuação. Uma barreira que impede a entrada de produtos brasileiros”, completou o ministro do Itamaraty.

Denúncia

Também em junho, um grupo de pessoas que se autodenominam "controladores sociais" fez pública uma denúncia contra uma suposta organização criminosa que se dedica a introduzir produtos alimentícios brasileiros de forma ilegal na Venezuela, burlando os controles aduaneiros e as medidas de proteção à produção nacional. A organização foi batizada como "Os Reizinhos de Roraima" e estaria liderada pelo auditor fiscal brasileiro Alysson Rocha, que facilita a saída do Brasil e entrada na Venezuela de mercadoria sob o conceito de "exportação".

Os envolvidos no caso

A denúncia incluiu uma infografia na qual se identificam vários atores do caso, entre empresas e pessoas físicas. Estes são:

• Distribuidora Frios Roraima (Brasil): Allan Luiz de Oliveira e Willians Paulo Mischur

• Frios Roraima (Venezuela) e Comarca (Venezuela): Nuno Condesso Martínez Martins (venezuelano)

• Auditor fiscal Alysson Rocha (Brasil)

• Distribuidora Tauan (Brasil): Kleber e Cleiton Aguilar

• Logística BellaTrix (Brasil): Fátima Araujo e Mirella

• Amazon Pneus (Brasil): Cavalcante

• J.L. Fernandes Comércio Atacadista (Brasil): Jackson

• Chino Julio (comerciante localizado na Venezuela, na cidade de Puerto La Cruz)

O modus operandi

Segundo a denúncia, os produtos brasileiros, como frango, salsichas, mortadela, óleo, açúcar, etc., não passam pela aduana venezuelana, mas são transportados pelas trilhas ou "caminhos verdes" que cruzam a fronteira. Depois são distribuídos nas prateleiras venezuelanas a nível nacional, aproveitando a diferença de preços e a escassez de alimentos que sofre a Venezuela.

O impacto do contrabando

Os controladores sociais denunciam que o contrabando afeta a economia e as empresas nacionais, bem como a saúde e a integridade dos habitantes da Venezuela. Além disso, questionaram como é possível encontrar esses produtos brasileiros em grandes quantidades nas prateleiras venezuelanas, se existe na Venezuela uma resolução há vários meses de restrição para a proteção à produção nacional. Por fim, exigiram que se investigue e sancione os responsáveis por este ilícito.

Segundo os controladores sociais, o auditor Rocha e as empresas mencionadas obtiveram grandes lucros com o contrabando, à custa de prejudicar os empresários honestos da Venezuela e do Brasil que cumprem com a lei e contribuem para o desenvolvimento e a soberania alimentar de ambos os países.

Operação e inspeção na Frios Roraima

Na quinta-feira passada, 1º de junho, funcionários da Receita Federal (RFB) realizaram uma operação e inspeção na Frios Roraima, uma empresa localizada em Pacaraima, perto da fronteira com a Venezuela. A empresa se dedica à distribuição e exportação de produtos alimentícios, principalmente salsichas e outros embutidos.

Segundo fontes da RFB, a empresa estaria envolvida na rede de contrabando de salsichas para o lado venezuelano da fronteira. Na operação foram confiscados mercadorias e identificados vários motoristas com placa venezuelana que transportavam salsichas para passá-las ilegalmente para o outro lado.

Durante a inspeção, houve uma perseguição e uma troca de tiros entre os agentes e um suspeito que tentou fugir em uma caminhonete preta, aparentemente Ford Bronco, que conseguiu fugir para território venezuelano com os pneus furados. O motorista tentou esconder o rosto durante a fuga. Não houve feridos nem maiores danos materiais.

Os donos e sócios da Frios Roraima

Frios Roraima é propriedade do empresário brasileiro Allan Luiz de Oliveira, que é sócio do cidadão venezuelano Nuno Condesso Martínez Martins em outra empresa chamada Atacaraima Comercio. Martínez Martins é conhecido como “O Rei do Contrabando da Salsicha” e tem residência no estado Zulia, na Venezuela. Embora seu nome não conste em registros da Frios Roraima, suspeitas indicam que Martínez é por trás acionista da mesma.

Allan Luiz de Oliveira e Martínez operam a empresa em associação com Willians Paulo Mischur, que atua como CEO da Frios Roraima e de outra empresa chamada Consignum. Outro sócio de Allan Luiz de Oliveira é Wigor Henrique Dos Santos. O grupo mantém vínculos comerciais também com outra empresa que leva o nome de Comarca. No estado de Roraima existem processos judiciais abertos contra Allan Luiz de Oliveira, devido à evasão de impostos sobre a circulação de mercadorias.

Nuno Condesso Martínez é também proprietário da empresa Transporte Roraima Do Amazonas Ltda, onde tem como sócio Matheus Spadare Mischur. O contrabando na fronteira entre Brasil e Venezuela é um problema recorrente que afeta ambos os países. A fronteira entre Brasil e Venezuela tem uma extensão de 2.199 quilômetros e está marcada por uma grande desigualdade econômica e social. A crise que vive a Venezuela provocou um êxodo venezuelano para o Brasil, especialmente para o estado de Roraima.



Publicar un comentario

0 Comentarios